Toda imagem é uma história No. 02.

Era a minha quarta visita à Indonésia, mas a primeira ao sul da ilha de Sumatra, em uma pacata cidade de poucos mil habitantes cercada por uma floresta repleta de animais selvagens e um imenso mar com bancadas de corais.

Estava sozinho. Sozinho não! Estava com uma motocicleta alugada de freios sem pastilhas que engasopava a cada arrancada e que, após alguns dias sob minhas ancas, foi promovida à confidente, uma espécie de divã ambulante para os meus devaneios.

A população era predominantemente muçulmana, mas muito distante dos padrões religiosos construídos em nossas mentes, sorriam, e muito! A alegria, tanto dos mais novos quanto dos mais velhos, era contagiante. E o turista barbudo com uma câmera fotográfica sob sovaco era abordado constantemente pelos locais para ser fotografado ao invés de fotografar. Status de sub-celebridade.

Numa dessas andanças de sentir o vento na cara avistei o pescador segurando a sua rede caminhando confiante sobre uma afiada bancada de corais. Ele não usava botas. Ele não usava sandálias.

A hora não era das melhores para fotografar, mas o dia nublado me presenteava uma luz difusa, que refletida no branco da espuma das ondas poderia iluminar um pouco seu rosto sob o típico chapéu indonésio.

Saí correndo em sua direção. Confesso que, embora minha abordagem para fotografar seja sempre muito orgânica, eu o assustei um pouco. Afinal, ninguém gosta de ser perseguido, muito menos por alguém ali tão diferente como eu.

O pescador, tímido, logo viu que eu tentava conecta-lo levantando a minha câmera feito uma bandeira de paz. E ele andava me ignorando. A essa altura, água na canela e desequilibrio, tentava acompanhá-lo, esperando que olhasse para os meus olhos para mostrar as minhas intenções.

A sandália boiou. Ele correu. O repuxo das ondas em nada contribuia. Meu pé ganhou um arranhão. Mas somos brasileiros…

Com esforço consegui me aproximar. Simpatia é quase amor, não sei se por dó ou por recompensa, ele ergueu a sua rede e olhou firme para a minha lente. Protagonismo. Personalidade. Força.

A foto fala por si. Mas a história por trás também sempre diz muito.