Toda imagem é uma história no. 03

Ipanema é cartão postal. Praia cenário extrato zona sul carioca procurada por turistas de outras parte do globo e por aqueles influenciados por Manoel Carlos e seus personagens quase fictícios.

Mas eu estava ali à trabalho, caçando ângulos distintos para uma grande empresa de telefonia que havia me contratado para produzir conteúdo. Como fugir do óbvio na quina de areia mais manjada do Rio de Janeiro? Eu também não sabia.

O sol já não me ajudava, o dia no meio da semana também, e andar com câmera na mão no erre jota dá um certo desconforto. Mesmo naquele lugar um tanto mais vigiado que os demais.

De repente (sempre é de repente), avistei aqueles dois corpos escultura brilhando no meio da areia. Vinham caminhando ou já estavam prestes a se sentar – não lembro bem – mas corri pela areia fofa até abordá-los com a câmera já pronta para clicar.

Instinto fotográfico berrando! Já sabia que a imagem seria ótima. Contraponto dos dois irmãos ao fundo, os simpáticos turistas estavam ali pela primeira vez.  Eram de Nova Iorque e estavam de férias. Pedi a foto: um aceitou e já abriu um largo sorriso. O outro ficou no meio do caminho, mas cedeu, assim que a foto pronta já estava.

Sempre uma alegria mostrar o resultado e ver a reação do fotografado. Os dois adoraram! Agradeci o retrato. Essa é uma das minhas fotos preferidas do Rio de Janeiro. Obviamente, não entrou na campanha. Mas está aqui para todo o mundo ver.  

O dia que entreguei 1 Milhão de Reais.

A pandemia ainda nos assombrava no fim do ano de 2020 quando bateu à porta o briefing para dirigir a ação da Promoção Ypê, que anualmente sorteia 1 milhão de Reais aos concorrentes.  Máscara na cara, swab dentro do cérebro e banho de álcool gel na mão.

Sorte minha, o âncora narigudo que por anos fazia da Promoção um quadro dentro de seu programa estava cotado para se aventurar na vida política e, por obra do destino e de bons parceiros, pude levar um pouco do meu olhar para essa história.

Uma ação dessas nunca é fácil. Afinal é Brasil, um território enorme concorrendo ao sorteio. Um felizardo que é apontado dois dias antes da produção sair para gravar e que, pode morar ao lado do Marco Zero em São Paulo ou na divisa do Brasil com Venezuela. Fato é: se não tiver uma equipe malandra e agilizada a coisa não sai do papel.

Após a novela do ganha ou não ganha e vai ou não vai estávamos todos em Arraial do Cabo, três dias antes do Natal, para entregar o Prêmio a Dona Regina, uma Sra. figurassa, com uma vida de muitas baixas, mas que contagiava geral com seu bom humor e sede de viver. Uma pescadora. E com toda a simbologia que sua atividade carrega, não haveria pessoa melhor para ganhar aquele prêmio.

Chegar à casa de alguém omitindo um vale de 1 Milhão de Reais na carteira é um troço muito doido. Haja sabão pra deixar a emoção morna com o clímax para a entrega do Prêmio. Afinal, a essa altura todo mundo desconfia. Tudo é quente, tudo é na hora, e montar essa narrativa com o Rec solto foi bacana pra caramba.   

O filme foi aprovado no dia 31/12. Palmas pra toda (e enxuta) Equipe que se desdobrou e também se divertiu (sim, premissa do set feliz que reverbera no filme final!) naqueles poucos dias em Arraial.

A conclusão dessa história você assiste aqui embaixo.

Toda imagem é uma história No. 02.

Era a minha quarta visita à Indonésia, mas a primeira ao sul da ilha de Sumatra, em uma pacata cidade de poucos mil habitantes cercada por uma floresta repleta de animais selvagens e um imenso mar com bancadas de corais.

Estava sozinho. Sozinho não! Estava com uma motocicleta alugada de freios sem pastilhas que engasopava a cada arrancada e que, após alguns dias sob minhas ancas, foi promovida à confidente, uma espécie de divã ambulante para os meus devaneios.

A população era predominantemente muçulmana, mas muito distante dos padrões religiosos construídos em nossas mentes, sorriam, e muito! A alegria, tanto dos mais novos quanto dos mais velhos, era contagiante. E o turista barbudo com uma câmera fotográfica sob sovaco era abordado constantemente pelos locais para ser fotografado ao invés de fotografar. Status de sub-celebridade.

Numa dessas andanças de sentir o vento na cara avistei o pescador segurando a sua rede caminhando confiante sobre uma afiada bancada de corais. Ele não usava botas. Ele não usava sandálias.

A hora não era das melhores para fotografar, mas o dia nublado me presenteava uma luz difusa, que refletida no branco da espuma das ondas poderia iluminar um pouco seu rosto sob o típico chapéu indonésio.

Saí correndo em sua direção. Confesso que, embora minha abordagem para fotografar seja sempre muito orgânica, eu o assustei um pouco. Afinal, ninguém gosta de ser perseguido, muito menos por alguém ali tão diferente como eu.

O pescador, tímido, logo viu que eu tentava conecta-lo levantando a minha câmera feito uma bandeira de paz. E ele andava me ignorando. A essa altura, água na canela e desequilibrio, tentava acompanhá-lo, esperando que olhasse para os meus olhos para mostrar as minhas intenções.

A sandália boiou. Ele correu. O repuxo das ondas em nada contribuia. Meu pé ganhou um arranhão. Mas somos brasileiros…

Com esforço consegui me aproximar. Simpatia é quase amor, não sei se por dó ou por recompensa, ele ergueu a sua rede e olhou firme para a minha lente. Protagonismo. Personalidade. Força.

A foto fala por si. Mas a história por trás também sempre diz muito.

É perdido que se encontra a foto.

Eu gosto de me perder. Aliás, tenho um tesão enorme em me perder. Acho que sair da zona de conforto te deixa mais atento. Mesmo quando com o “furim” na mão. Lembro de um professor, ainda do curso de Direito, que disse do potencial em se tornar gênio quando o calo aperta. E é verdade, nossa capacidade em se reinventar (odeio essa palavra) só aumenta.  

Mas bom mesmo é se perder com a câmera na mão. Principalmente em um lugar desconhecido. O frescor das novas paisagens cria rapidamente imagens em nosso inconsciente e só nos resta guarda-las nas câmeras ou na memória, o que preferir.

Essas duas fotos eu fiz em 2017 e 2018 respectivamente, imagens que eu adoro, e que foram feitas diante de um GPS humano completamente derrotado.
A primeira, na Índia, numa das tantas vielas de Varanasi. Um flagra de um cotidiano colorido na hora do chá digestivo sob um calor escaldante.

A segunda, nas zonas rurais do Vilarejo de Pitumarca, no Peru. A fotografada fechava os olhos para se concentrar no rádio de pilhas que transmitia o jogo de futebol enquanto ela capinava seu pequeno pedaço de terra. 

Se eu estivesse seguindo a rota inicialmente pensada no início de ambos os dias, essas imagens nunca teriam vida. Ainda bem que deu certo.

Meu Darín tem um quê de Pascal. 

Em um passado não muito distante e antes de me agrisalhar por inteiro, a Canon da América Latina decidiu me dar uma super moral e me convidou para testar as suas lentes Prime e contar um pouco sobre minhas impressões em um filme da própria marca. Essas coisas de blogger-influencer-embaixador-formador de opinião.

Acontece que pouco fiz alarde quando o filme, na sua versão original, foi publicado. A real é que falar em frente às câmeras é muito difícil. E morri de vergonha ao sacar a minha boca entortando involuntariamente após o “ação” dado pelo Diretor da ocasião.

Mas nessa semana, num relance egocêntrico, procurei pela tal pérola na internet e encontrei uma versão bem mais interessante: todinha dublada em espanhol.

Poxa, sou da época que tirar uma onda com dublagens toscas à la novelas mexicanas era um grande barato. Pois bem, todo o meu precário acting do outro lado do balcão caiu feito uma luva na voz aveludada latina. E o charme da boca falando uma coisa enquanto se escuta outra, senhoras e senhores, esse eu nem comento...

Um pouco de IA não faz mal a ninguém.

Estou aqui no alto do meu muro com o capim na boca, vendo a revolução da Inteligência Artificial tomar conta das notícias e dos posts imagéticos das redes sociais.

A IA pra mim é o sonho virando imagem, a atmosfera criada e as “n” possiblidades partindo da realidade se assemelham a um chicletinho junguiano, desses doidões.   

Quem nunca acordou e contou para o seu parceiro: “Nossa, sonhei que estava em casa, um cavalo batia na porta e, de repente, eu tava cagado num samba, faltando dois dentes na minha boca, e tentava me esconder dentro do fusca parado na porta do lugar – e quando vi o Fusca era do meu tio!”

A IA te dá a possibilidade de dar vida a uma cena dessas, e melhor: trazendo texturas, cores e expressões dentro de um contexto possível e plástico.

Mas me pergunto: é possível recriar a sensibilidade? É possível a inteligência somar o perrengue que o artista teve, que o levou àquela ideia ou assinatura em determinado projeto?

Longe de mim o recalque ou questionar essa inovação que já faz parte da nossa vida, mas sinto que, além da inteligência, imagem também precisa um pouco da burrice. Do tosco, da necessidade, enfim da realidade crua. Afinal, a IA parte de imagens e referências existentes nessa terra de Deus.

Talvez a IA tenha o papel de uma ayahuasca, abrindo e desbloqueando portas e compreensões na mente dos artistas para que possamos buscar o nirvana imagético. Acho que sim.

De qualquer forma, pulemos desse muro e mergulhemos no vasto mar criptografado, para que eu não seja daqui um tempo um vendedor de conteúdo das antigas, abrindo portfólio na rabera de uma Marajó marrom e surrada no estacionamento de um Festival SXSW da Rua 13 de Maio. Brinco na orelha e rabo de cavalo.

Se alguém criar essa imagem me envie, por favor.

Providência.

Um belo dia meu brother Carlos Santanna, vulgo Negão da Serrinha, numa ligação de vários minutos (ô bicho que gosta de falar) me chamou para produzir o clipe de sua mais nova música “Providência” e fiquei um tanto intrigado.

Não havia mais que uma idéia inicial para a sua produção. Verba? “A gente dá um jeito!” Equipe? “É tu e a tua câmera!” Ou seja, vamo que vamo é mato, mas a gente gosta de desafio.

Como sair da mesmice e trincar um formato impactante para o Samba? É nessa hora que de um limão, a gente faz caipirinha.

Simplificando a história e o custo: a idéia inicial que ele trouxe era ele lendo jornal ou algo similar. Então, “Pretin, você vai virar o âncora de jornal, a gente te põem no fundo chroma que aceita qualquer viagem que a gente possa criar, e você também vai virar o repórter em campo, cortando de você para você mesmo. E a graça e a sacada vai ser essa.” Ele abraçou…

Meia diária em estúdio, outra diária entre Capão Redondo e Av. Paulista - era dia do primeiro jogo da Copa do Mundo de Futebol de 2022. Supostamente, assim o trânsito estaria tranks pra locomoção na Babylon.. ahan!

No fim, eu na câmera com meu parceiro de vida Hernan dando aquela força na assistência, a Came que fortaleceu a make do Estúdio, Igão que fez a cor quase no Amor, o Dimi que ajustou a barra animada que nem por Deus eu acertava no After Effects e, é claro, Negão e Onâ quebrando tudo e brilhando com toda a energia na frente das câmeras, lugar que é deles e ninguém tira!

Hoje, dia 31/03/23, ele lançou em suas plataformas e no youtube o resultado de uma ligação com um embrião em idéia.

Foi uma honra Pretin, deu trampo, mas foi uma honra!