Um pouco de IA não faz mal a ninguém.

Estou aqui no alto do meu muro com o capim na boca, vendo a revolução da Inteligência Artificial tomar conta das notícias e dos posts imagéticos das redes sociais.

A IA pra mim é o sonho virando imagem, a atmosfera criada e as “n” possiblidades partindo da realidade se assemelham a um chicletinho junguiano, desses doidões.   

Quem nunca acordou e contou para o seu parceiro: “Nossa, sonhei que estava em casa, um cavalo batia na porta e, de repente, eu tava cagado num samba, faltando dois dentes na minha boca, e tentava me esconder dentro do fusca parado na porta do lugar – e quando vi o Fusca era do meu tio!”

A IA te dá a possibilidade de dar vida a uma cena dessas, e melhor: trazendo texturas, cores e expressões dentro de um contexto possível e plástico.

Mas me pergunto: é possível recriar a sensibilidade? É possível a inteligência somar o perrengue que o artista teve, que o levou àquela ideia ou assinatura em determinado projeto?

Longe de mim o recalque ou questionar essa inovação que já faz parte da nossa vida, mas sinto que, além da inteligência, imagem também precisa um pouco da burrice. Do tosco, da necessidade, enfim da realidade crua. Afinal, a IA parte de imagens e referências existentes nessa terra de Deus.

Talvez a IA tenha o papel de uma ayahuasca, abrindo e desbloqueando portas e compreensões na mente dos artistas para que possamos buscar o nirvana imagético. Acho que sim.

De qualquer forma, pulemos desse muro e mergulhemos no vasto mar criptografado, para que eu não seja daqui um tempo um vendedor de conteúdo das antigas, abrindo portfólio na rabera de uma Marajó marrom e surrada no estacionamento de um Festival SXSW da Rua 13 de Maio. Brinco na orelha e rabo de cavalo.

Se alguém criar essa imagem me envie, por favor.